domingo, 27 de fevereiro de 2011

Educação sob pressão: estresse afasta 15% dos professores


Protagonista na formação de qualquer indivíduo da sociedade, o professor é hoje coadjuvante na história de cada um e, invariavelmente, ainda é taxado de vilão. Desvalorização, remuneração ruim, perda de autoridade e, sobretudo, desrespeito, fazem o mestre atingir o esgotamento da sua plena capacidade pedagógica, não por desconhecimento da matéria, mas por não suportar a pressão. Sucumbe ao estresse.

Na Baixada Santista, os professores sofrem de maneira acelerada. Segundo estimativas do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), o número de docentes da rede pública paulista, afastados pela doença, varia entre 10% e 15% do total.

A quantidade de professores da região retirados das aulas para tratamento se aproxima de 700, em um universo de 4.500 profissionais. Em todo o Estado, dos 220 mil docentes, cerca de 17.500 estão fora da atividade por diversos motivos, entre eles o estresse, conforme divulgou a Secretaria de Educação paulista, com base no fechamento do mês de dezembro último.

A Tribuna não conseguiu números das escolas municipais e particulares da região, seja com as prefeituras ou entidades que representam escolas e mestres. Mas, segundo relatos de representantes da categoria, pode chegar a 5%.

De acordo com a psicóloga Marisa Santos Souza, “ser responsável por crianças e adolescentes, que não têm interesse em aprender por uma predisposição, é uma carga muito grande e pode ocasionar uma pane no sistema nervoso”.

A solução é uma mudança da conjuntura atual, mais flexível e menos massacrante, aliada a exercícios de ginástica laboral.

Ela explica que as alterações psicossomáticas no professor são verificada há duas gerações, no intervalo de 40 anos, motivadas por uma mudança cultural, na qual “o professor virou coadjuvante”. “O aluno diz: por que devo estudar se não vou aplicar esse conteúdo na prática? Para ele, a avaliação é que o mestre está errado, não conhece nada, e ninguém pode reprimí-lo, nem mesmo os pais. Perdeu aquilo do respeito, da autoridade do professor”.

A questão comportamental é ainda mais prejudicial ao docente quando há a absorção das dificuldades estruturais. Falta de capacitação permanente e remuneração incompatível com a responsabilidade de ensinar refletem no organismo. A crise pode virar até depressão.

A bacharel em Administração Juliana Braz e a professora Eliana Alves desenvolveram um trabalho no qual identificaram que a profissão de professor é a mais valorizada pela sociedade, mas também a mais negligenciada. Associado às condições ruins de trabalho, longas jornadas e indisciplina de alunos, o abandono pode gerar o estresse e, na sua fase mais aguda, a síndrome de Burnout, quando o profissional abandona a atividade.

Sistema deficiente

“Hoje em dia, tudo contribui para o estresse do professor. Começa com a desvalorização, que recai sobre salas superlotadas, escolas caindo aos pedaços, pais de aluno partindo para cima do professor, quando não é o próprio aluno”, elenca a secretária-geral da Apeoesp na região, Sônia Maciel.

Sônia relata o baixo rendimento como um dos fatores mais desestimulantes. Segundo ela, a fórmula para atribuição de aulas é complicada e faz muitos ficarem sem espaço nas escolas. A sindicalista conta que hoje há a exigência de uma prova de capacidade, que restringe o recebimento de aulas e, por consequência, o salário.

Atualmente, o mestre recebe R$ 7,58 por aula dada. O professor pode assumir, no máximo, oito aulas por dia. Na Baixada Santista, os vencimentos médios dos docentes giram em torno de R$ 1 mil, mais as gratificações. “Por isso que tem professor que trabalha manhã, tarde e noite”, justifica Sônia.

Fonte: http://www.atribuna.com.br

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