segunda-feira, 11 de julho de 2011

A greve enquanto instrumento de luta da Classe Trabalhadora

"Pois quem toca o trem pra frente
também de repente
pode o trem parar."


(Chico Buarque, Linha de montagem)


Quando há intransigência dos empregadores em negociar pautas de interesse da classe trabalhadora e este segundo só possuindo como meio de pressão a sua força de trabalho, é forçado a utilizar como instrumento de ação política a greve.

A primeira grande greve brasileira ocorreu em S. Paulo em 1917 quando trabalhadores pararam fabricas na Mooca e no Ipiranga e logo este movimento contagiou vários outros trabalhadores que pararam a cidade de S. Paulo. Durante um mês a cidade viveu a agitação dos comitês de greve e com a morte de um operário em confronto com a polícia espalhou-se em solidariedade por outras cidades do estado (Campinas, Santos, entre outras). Esse movimento estendeu-se para várias regiões do território brasileiro até 1919, sendo impulsionador de debates no meio operário sobre os rumos do movimento sindical, contribuindo na promoção dos avanços dos ideais socialistas e fornecendo as bases para os direitos trabalhistas colocados na CLT.

"São Paulo é uma cidade morta: sua população está alarmada, os rostos denotam apreensão e pânico, porque tudo está fechado, sem o menor movimento. Pelas ruas, afora alguns transeuntes apressados, só circulavam veículos militares, requisitados pela Cia. Antártica e demais indústrias, com tropas armadas de fuzis e metralhadoras.

Há ordem de atirar para quem fique parado na rua. Nos bairros fabris do Brás, Moóca, Barra Funda, Lapa, sucederam-se tiroteios com grupos de populares; em certas ruas já começaram fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas e a polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros. Os jornais saem cheios de notícias sem comentários quase, mas o que se sabe é sumamente grave, prenunciando dramáticos acontecimentos." Dias, Everardo. "História das Lutas Sociais no Brasil". Apud Bandeira, M. et alia, op. cit., pp. 56-57.

Outro marco na história das greves no Brasil ocorreu entre os anos de 78 a 80 no ABC Paulista, tendo seu ápice em 79 quando 180 mil metalúrgicos cruzaram os braços, sendo esta a primeira greve geral após o Ato Institucional N. 5 do regime militar de 68, que começa como reivindicação de reposição salarial contra a super exploração do trabalho e acabou por dar inicio a toda uma mobilização política no país em busca de mais liberdade.

No ABC foi realizado, com a força das greves, o primeiro ato organizado por trabalhadores para exigir anistia ampla, geral e irrestrita a todos os exilados e perseguidos pelos militares. As elites reagiram com uma dura repressão ao movimento com Helicópteros do Exército sobrevoando as assembléias, bombas de gás, tropas de choque, espancamentos, prisões e várias intervenções nos sindicatos. Mas nada disto impediu que os metalúrgicos escrevessem no chão do Paço de São Bernardo a palavra democracia, ato que simbolizou o motivo maior de continuidade da luta, resistência e de bravura. A passeata das mulheres dos metalúrgicos pelas ruas do ABC foi o momento de maior grandeza da solidariedade e sob os olhares da repressão, elas gritavam liberdade aos seus maridos e companheiros presos e em luta.

O Brasil estava unido ao ABC e de todos os cantos do país chegavam apoios para o movimento grevista. Os metalúrgicos criaram o Fundo de Greve, base de sustentação da luta e símbolo da solidariedade de classe. A partir da paralisação de 79, os trabalhadores do ABC derrubaram, na prática, a proibição do direito de greve, mesmo com as pressões e intervenções que os sindicatos sofreram naquele ano e nos seguintes, resgatando a liberdade de manifestação dos trabalhadores e também contribuindo com a abertura política no país.

"Maio de 78 tem suas raízes no cotidiano operário, tecido especialmente nos primeiros anos da década. Finda a euforia do 'milagre', o afloramento da crise econômica atingia ainda mais diretamente a classe trabalhadora, que pautava a sua atuação nos marcos da resistência contra o binômio arrocho-arbítrio, superexploração-autocracia, que, entrelaçados intimamente, impunham ao proletariado uma dura realidade". Antunes, Ricardo "A Rebeldia do Trabalho (O Confronto Operário no ABC Paulista: As greves de 1978-80), pp. 13-14, ensaio/Editora da Unicamp, 1988.

Atualmente este instrumento de luta da classe trabalhadora vem sofrendo com distorções por parte dos empregadores em especial os gestores públicos do governo do estado de São Paulo que buscam denegrir a imagem do funcionalismo público manipulando a opinião pública com a conivência da imprensa, responsabilizando o servidor público pela ineficiência do estado, acusando-os de serem privilegiados e de fazerem a máquina pública e a população reféns das greves.

Ora, tais manipulações ideológicas escondem que o projeto dos governos neoliberais que defendem o Estado mínimo e precarizam a máquina pública - não repondo os quadros de lotação de pessoal, não propiciando as condições adequadas de atendimento à população demandatárias dos serviços e não corrigindo as perdas salariais dos trabalhadores - serve na verdade para desresponsabilização do Estado e muitas vezes para sucateamento dos equipamentos públicos a fim de justificar privatizações como vêm ocorrendo e sendo amplamente denunciado não só pelo movimento sindical, mas também pelo movimento de saúde do estado de São Paulo.

A classe trabalhadora por meio do movimento sindical grevista é ainda mais criminalizada quando utiliza este instrumento de luta - a greve - associada a estratégia de ocupação dos prédios públicos, a exemplo do que ocorreu recentemente nas greves das universidades públicas do estado de SP e com @s brav@s companheir@s do judiciário paulista que permaneceram em greve por gloriosos 127 dias - mais de 4 meses - e mesmo tendo seus dias descontados realizaram ocupação do prédio do Palácio da Justiça onde permaneceram sem comida e água.

"Quando vossas excelências se mostram indignados ao ver a arquitetura do Palácio em risco, não posso deixar de registrar que eu, enquanto assistente social, me sinto indignada ao ver uma criança que sofreu abuso sexual relate esta agressão enquanto todos na sala de espera ouvem o que ela diz porque este Tribunal não dá um mínimo de estrutura para que possamos trabalhar com sigilo".

Manifestação da presidente da Associação dos Assistentes Sociais e Psicologos do TJ, Elisabete Borgianni, durante a ocupação em 02/06 sobre a falta de condições mínimas de trabalho aos Juízes que encontravam-se indignados com a "invasão" do palácio.

Em apoio às lutas dos trabalhadores do judiciário em greve o CRESS-SP esteve presente em manifestação na Praça João Mendes, mobilizou e articulou junto a categoria durante o Pré-CBAS/SP ocorrido no período de 10 à 12 de junho a "Moção de Apoio a Greve do Judiciário" e ainda no último CBAS realizado em Brasília participou de reunião com a AASPTJ-SP - Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do TJ - SP onde recebeu informes das colegas e manifestou novamente apoio a luta.

A criminalização do movimento grevista do judiciário chegou ao ponto da imprensa irracionalmente colocar em suas páginas questões como falta de água mineral e ar condicionado, itens estes se quer mencionados nas pautas de reivindicações; estas matérias da imprensa conservadora buscam sempre sugestionar a população falsas mordomias ao funcionalismo público e desmobilizar o movimento. Contudo os trabalhadores do judiciário permaneceram resistindo e realizaram nova ocupação em 25/08, desta vez na Assembléia Legislativa, entretanto tiveram que desocupar o espaço durante a madrugada escoltados pela policia militar. Em 01/09/10 terminou a greve no judiciário com a assinatura do acordo de dissídio coletivo entre as entidades envolvidas e o tribunal de justiça, mas segundo as entidades "nova reunião já está agendada para o dia 6 de outubro e o acordo não é o fim da luta, mas um importante passo. O estado de greve continua até janeiro, continuaremos vigilantes para que o TJ cumpra o que assinou." Acompanhe em:http://www.aasptjsp.org

Os trabalhadores da saúde são ainda mais criminalizados quando deflagram movimento de greve, pois a população adoecida que procura os equipamentos de saúde não aceita a manifestação; em decorrência desta particularidade o movimento sindical da área da saúde vem associando estratégias como o "estado de greve" onde os trabalhadores se revezam e parte atende a população e a outra parte esclarece esta mesma população e a comunidade em geral as situações vivenciadas pela saúde do estado de S. Paulo, indicando claramente a justificativa das reivindicações, desmistificando o discurso dos gestores estaduais e colhendo apoio ao movimento.

O mesmo fez os trabalhadores da Fundação Casa que também entraram em "estado de greve" após assembléia geral da categoria onde reivindicavam reajuste real, respeito à data base da categoria, segurança no local de trabalho e mais 82 itens da pauta de reivindicação. Essa negação do Estado pelos direitos já conquistados vem criminalizando cada vez mais a organização dos trabalhadores.

Igualmente criminalizados foram os trabalhadores da educação do estado de SP, que após manifestação na Av. Paulista em que reivindicavam melhoria salarial, receberam acusações de promoverem greve eleitoreira, como se não fosse de conhecimento público que o salário do professorado paulista foi e continua sendo aviltante.

O CRESS/SP é solidário a luta das trabalhadoras e trabalhadores servidores públicos e se coloca ao lado de toda classe trabalhadora; classe trabalhadora esta que utiliza como instrumento de luta a nobre greve com suas inúmeras estratégias, para a vigília das conquistas de direitos conquistados pelos nossos antecessores e pela ampliação dos direitos.

Fonte: http://www.cress-sp.org.br

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