domingo, 20 de junho de 2010

Pai oferece R$ 10 mil por acusado da morte de filho


Empresário Sérgio Oazen, cujo filho, Thiago, 19, foi assassinado em 2008, está disposto a pagar a quantia do próprio bolso por pistas sobre ex-PM que teria ameaçado testemunha

POR >>>>>FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Após dois anos de impunidade, dor e perseguições, desde a morte de seu único filho — o estudante de Direito Thiago Henry Siqueira Oazen, de 19 anos —, o empresário Sérgio Oazen, 43, mesmo ameaçado de morte, faz novas denúncias contra os acusados de matar o jovem. Segundo ele, pessoas ligadas aos três ex-soldados do 18º BPM (Jacarepaguá), apontados como responsáveis pelo crime, não pararam de intimidar pessoas que tentam ajudar na resolução do caso.


Abraçado ao desenho do rosto de Thiago, Sérgio luta para ver punidos os acusados da morte de seu filho.

Além disso, o pai do universitário oferece R$ 10 mil de recompensa para quem der pistas sobre o paradeiro de um dos ex-policiais: Luiz Carlos Cerqueira Ribeiro.

O ex-PM teve a prisão preventiva decretada pelo desembargador da 7ª Câmara Criminal, Siro Darlan, no dia 2 de março, porque teria ameaçado uma testemunha do crime. Desde então, é considerado foragido da Justiça. “Decidi pagar para quem der informações, pois ele representa grave ameaça a nós (parentes e testemunhas)”, justifica Sérgio.

QUATRO ESPANCAMENTOS

Ribeiro foi reconhecido pelo motoboy Toshiro Nakahara Jr., 29 anos, pela participação em pelo menos um dos quatro atentados que sofreu desde a madrugada de 28 de abril de 2008, quando presenciou a morte do estudante, na Rua Tirol, na Freguesia, em Jacarepaguá, Zona Oeste.

O último espancamento sofrido pelo rapaz foi justamente em 28 de abril, dois anos após o crime e três dias antes da decretação da prisão do ex-PM. Conforme o registro de ocorrência 2.620, da 16ª DP (Barra da Tijuca), Toshiro seguia para a casa da namorada, numa rua de Jacarepaguá, quando três homens desceram de um Gol preto e gritaram: “É ele!”.

Depois, começaram as agressões, com socos e pontapés. Antes de fugir, roubando documentos do motoboy, os criminosos disseram que “aquilo era para ele aprender a ficar de boca fechada”.

Por causa das agressões, Thoshiro sofreu fraturas e luxações nos braços, pernas, tórax e rosto. Após o espancamento, Sérgio Oazen contratou seguranças para dar proteção ao motoboy, a quem passou a tratar como filho.

Relatos desmentem versões dos ex-policiais

No dia do crime, Thiago e seis amigos voltavam em motos de um baile, quando soldados, então lotados no Gpae da Favela Rio das Pedras, passaram pelo grupo na Estrada de Jacarepaguá. Os PMs retornaram com a sirene ligada, mandando que os jovens parassem. Assustado por estar sem habilitação — ele havia perdido a carteira provisória —, Thiago acelerou a sua moto CB500.

Segundo relato de testemunhas, quando os PMs abordaram o rapaz, ele já estava em pé ao lado da moto, com as mãos na cabeça, de costas para os policiais. Um tiro de pistola disparado pelo soldado Fábio Aloísio Moreira Micas Montes atingiu a nuca do estudante.

Uma pessoa que presenciou a cena contou que um revólver 38, que os PMs alegaram que estaria com o jovem, foi ‘plantado’. A perícia não encontrou digitais na arma nem pólvora nas mãos de Thiago.

Os PMs sumiram com o estudante por cerca de uma hora, antes de chegarem ao Hospital Lourenço Jorge. O GPS apontou que os acusados circularam com o corpo na direção contrária ao hospital, rumo à Favela Rio das Pedras, e que ficaram parados lá por 22 minutos. O corpo chegou ao hospital com vestígios de mato e terra.

POLICIAL QUE ATIROU DIZ NÃO TER VISTO ‘DIREÇÃO DA BALA’

Com base em relatos de ameaças a Sérgio Oazen — seu carro foi atingido por tiros em abril de 2009 — e a outra testemunha, o frentista Aluísio Galdino, o Ministério Público também pediu à Justiça a prisão preventiva dos outros dois ex-soldados envolvidos no crime: Micas e Júlio Cesar da Silva. Os acusados foram expulsos da PM no ano passado.

A defesa nega acusações de ameaças e tenta desqualificar o crime de homicídio doloso por motivo torpe para homicídio culposo (sem intenção) ou lesão corporal seguida de morte. Micas confessou em interrogatório que atirara porque estava sob efeito de “adrenalina”, alegando, porém, “não ter visto a direção da bala”.

“Quero escrever um livro mostrando como a Justiça é morosa e frágil. Os assassinos do meu filho estão soltos e nós, vítimas, vivendo escondidas e aterrorizadas”, desabafa Sérgio, agarrado a uma imagem do filho feita por um artista de rua.

FONTE: http://odia.terra.com.br

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